Encontro Internacional de Palhaços de Cataguases

O evento foi uma idealização da atriz palhaça Ana Carolina Abreu, que estuda artes cênicas na Universidade Federal da Bahia (UFBA) e desenvolveu um projeto onde fosse possível disseminar a arte da palhaçaria em formas de oficinas, apresentações teatrais, seminários e até um desfile pelas vias públicas. Uniu suas ideias às ideologias do Instituto Francisca de Souza Peixoto.

No Instituto nasceu a palhaça Jobinha, que brilhava nos palcos do teatro Rosário Fusco e também nos atendimentos em ambientes de saúde junto aos Doutores Cura-Cura. “O Instituto foi minha primeira escola e por isso logo que imaginei esse festival, pensei em Cataguases e nessa instituição que tanto amo”, diz Ana Carolina.

E foram três dias de muito trabalho e também de muita produção cultural e intelectual. Nomes como Andrés Del Bosque, professor da Real Escola Superior de Arte Dramática de Madri e do Hotxuá Ismael Aprak Krahô, palhaço sagrado da tribo Krahô em Tocantins, enriqueceram os participantes com suas experiências. André ministrou uma oficina de bufonaria para jovens e adultos vindos de outras cidades e estados e ainda apresentou o espetáculo “Baqueiros”, uma livre adaptação do Mercador de Veneza de Shakespeare. “Esse encontro revelou um time excelente de artistas, vejo musicais, peças, encenações em praças públicas da mais alta qualidade”, disse Andrés ao final dos trabalhos. Ismael apresentou o documentário Hotxuá, de Letícia Sabatella e Gringo Cardia, onde é a personagem principal dessa aldeia onde impera o riso. Hotxuá é o mesmo que palhaço.

O Primeiro Encontro Internacional de Palhaços contou ainda com a presença do também ator palhaço Damian Moreira Reis, que lançou o livro Caçadores de Risos – O maravilhoso mundo da palhaçaria. “O livro é resultado da pesquisa do meu doutorado, ao ler você irá perceber que o palhaço diferencia do humorista porque ele se coloca como operador do riso, e isso estimula o amadurecimento do coração e da nossa mente.” Um seminário com a presença dos nomes acima, mais dos palhaços Rodrigo Robleño, Roberta Rodrigues e da psicóloga Sandra Maciel engrandeceram as discussões sobre as habilidades, dificuldades e alegrias de viver da arte da palhaçaria.

Wagner Gomes Seara, que dá vida ao palhaço Picuinha, veio do Rio de Janeiro para o encontro. “Me senti muito à vontade para experimentar, cheguei neste encontro porque vi o filme Hotxuá que tem momentos de rituais muito fortes, mas tem o palhaço sagrado, comicidade para as pessoas, isso me deixou identificado com meu próprio trabalho de palhaço, o meu início e toda minha história”, reflete.

Já Tiago Cambogi é bailarino, ator palhaço e coreógrafo, em Belo Horizonte. “Vim pra esse festival porque uso a linguagem do clow em meu trabalho, o bufão, ponte forte da oficina – é provocador e questionador, ou seja, só tem a enriquecer minha arte. Outro ponto que me trouxe à Cataguases foi o Hotxuá, pois meu projeto artístico atual é realizado na Trans-Amazônica”.

Outra participante, Fernanda Godinho, a palhaça Jujuba de Cataguases, também viu muitos pontos positivos no encontro. “A grande novidade para mim foi aprofundar mais na história da bufonaria, ir além das teorias que tinha, ter um contato próximo com Andrés Del Bosque, esse grande mestre e rever tantos amigos e palhaços queridos, além, é claro de me emocionar profundamente com o Hotxuá e essa linda história dos palhaços sagrados”.

O encontro proporcionou ainda uma grande palhaceata, no dia 10 de dezembro, Dia do Palhaço. Bailarinas, malabaristas, capoeiristas, músicos e outros artistas que fazem o tradicional Cortejo de Natal do Instituto se uniram aos palhaços e encantaram a população de Cataguases com esse grande espetáculo.