Exposição e História

postado em: Notícias 2007 | 0
Acervo Francisco Bolonha exposto no Instituto
Na próxima quinta-feira, estará em exposição no Instituto Francisca de Souza Peixoto, no Espaço Tratos Culturais, parte das obras do acervo pessoal de Francisco Bolonha. Uma homenagem póstuma ao importante arquiteto modernista brasileiro, que faleceu no Rio de Janeiro na manhã do dia 30 de dezembro. Foi cremado no dia 31, conforme sua vontade.

O acervo trata-se de um presente mantido pelo Instituto, que no ano de 2000, recebeu de Francisco Bolonha, a carinhosa doação de cerca de 400 obras de arte do seu acervo pessoal.

São peças adquiridas ao longo da vida que trazem grandes nomes nacionais e internacionais da pintura. Bolonha criou laços com Cataguases e com a Família Peixoto, assim, nos proporciona essa mostra.

Em seus caminhos pelo mundo, Francisco Bolonha conviveu com Cataguases e deixou sua marca. Uma autoridade na arquitetura, Bolonha e seus projetos ajudaram a cidade a se tornar conhecida internacionalmente.

Entre seus principais feitos no município estão, o Coreto Patápio Silva – na Praça Rui Barbosa, o Educandário Dom Silvério, a Praça José Inácio Peixoto, a Vila Operária no Bairro Jardim – Companhia Industrial Cataguases, além de projetos residenciais.

Para conhecer um pouco mais sobre o arquiteto, que viveu até dezembro de 2006, visite a exposição até o dia 25 de fevereiro de segunda a sexta-feira de 09h às 11h e de 13h às 21h e aos sábados, domingos e feriados de 09h às 22h.


FRANCISCO BOLONHA (1923-2006)
por Marcia Poppe

Francisco de Paula Lemos Bolonha nasceu a 3 de junho de 1923 em Belém do Pará, de onde saiu rumo ao Rio de Janeiro ainda criança, já com a intenção de se tornar arquiteto. Em 1945, formou-se pela primeira turma da Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil. Homem de personalidade contida e discreta distanciou-se da pessoa extrovertida e falante que cursou a Escola Nacional de Belas Artes. Apesar de nunca ter feito publicidade do que construiu, Bolonha teve durante as décadas de 40, 50 e 60 sua obra publicada em diversas revistas nacionais e estrangeiras (Habitat, PDF, Arquitetura Revista e AU/ L’Architecture d’Aujourd’hui, Architectural Forum, Architectural Journal, Brasilianische Architectur, The Architectural Review, Bauen + Wohnen Internationale Zeitschrift, Abitare e Architektur und Kultiviertes Wohnen). Por ter se acostumado ao silêncio da crítica depois desta época e ao longo dos anos, surpreendeu-se recentemente com o crescente interesse das gerações mais novas pelo estudo de sua obra.

No início da carreira, Bolonha aproximou-se da vertente arquitetônica recomendada por Lucio Costa. Os projetos construídos entre 1946 e 1959 caracterizam a primeira fase de sua obra e possuem a expressão formal e o vocabulário da Escola Carioca. A partir da adição de volumes distintos e altos pés-direitos, Bolonha alcançou espaços de grande fluidez e interpenetração visual. A segunda fase da carreira iniciou-se com os projetos da década de 1960, que demonstram linguagem mais sóbria, de caráter construtivo bastante acentuado e de formas puras. O arquiteto passou a resolver os programas em volumes únicos, mais fechados e com menos transparência. Foi justamente nesta ocasião que Bolonha começou a afirmar ter passado a entender a arquitetura como ciência. Em um sentido amplo e clássico, referia-se a um saber metódico e rigoroso, que definia a arquitetura como conjunto de conhecimentos sistematicamente organizados.

Mas se o arquiteto se afastou da Escola Carioca, é preciso dizer também que ele não acompanhou, por exemplo, as experimentações associadas à exploração plástica do concreto armado, ou os grandes vãos e balanços que o material possibilitava, tendências que puderam ser observadas de um lado em Niemeyer no período pós-Brasília, e de outro, na arquitetura característica da Escola Paulista. Mesmo que seja possível apontar duas fases em sua obra, sendo a primeira mais nativista e a segunda, mais concretista, o arquiteto não abandonou por completo alguns dos procedimentos iniciais que contribuíram para caracterizar mais fortemente os primeiros projetos como possuidores de vínculo com o passado de nossa arquitetura. Não por acaso, Bolonha utilizou o telhado cerâmico no mosteiro de Belo Horizonte (1949-1999), nas escolas do Governo Lacerda (1960 a 1964) e mais tarde, no projeto não construído para uma residência em Brasília (1979). A idéia da integração das artes também permaneceu no arquiteto e os painéis artísticos utilizados nos passeios públicos e nas escolas, nunca esconderam a crença no papel social e educativo da arquitetura.

Com o passar do tempo, Bolonha encaminhou-se para uma extrema racionalização do fazer arquitetônico, traduzido pela acentuação de sua preocupação com a verdade construtiva e pelo respeito às questões econômicas, funcionais e programáticas. Se não alcançou a perfeição, deixou claro que esta busca deu à sua obra caráter singular de atividade diária e muita dedicação:

“Se nada funciona, não se pode dizer que é boa arquitetura… (…) O arquiteto tem que trabalhar todo dia, como o pintor pinta todo dia, como o escritor escreve todo dia, ou como o médico pratica todo dia…”

Ao afirmar que as soluções corretas deveriam ser utilizadas por todos, assumiu o lado humano da profissão. Tornou-se um homem cada vez mais introspectivo, influenciado talvez pelo intenso contato que travou com um modo de vida muito especial, diverso do seu, e bastante diferente daquele do menino paraense, habituado às regalias de uma família abastada que nunca lhe negou auxílio ou proteção. A recusa aos privilégios e a tomada de consciência das diferenças de classes, já indicavam na infância, traços de uma individualidade que se acentuariam ao longo do tempo. A amizade com o monge Dom Inácio lhe rendeu muito mais do que inúmeros trabalhos para a Ordem Beneditina. Dedicou sua vida à construção do Mosteiro de Nossa Senhora das Graças, obra pela qual o arquiteto sempre afirmou ter muito carinho. Por ter durado 50 anos, é aquela que permite refletir criticamente sobre suas escolhas e posicionamento frente às teorias que lhe serviram de referência. Além disto, também constitui-se em sofisticada arquitetura pelo cruzamento de citações que explicita em relação a seus demais projetos.

“Sabe o que é, tem uma dignidade o mosteiro… Não é ”arquitetura moderna”, é uma arquitetura… Eu pensei em fazer arquitetura, só.”

O arquiteto faleceu no Rio de Janeiro na manhã do dia 30 de dezembro de 2006. Seu corpo foi cremado, conforme sua vontade. O desejo do arquiteto de ter um sepultamento simples, mais do que discreto, também foi acatado pela família. Estreitos foram seus laços com o Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro. A Missa de Sétimo Dia de sua morte não poderia ter sido marcada em lugar mais significativo.