Sul

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Autor: Guilhermino Cesar
Resumo:Enquanto a “fome do ouro” ainda continua a pertubar o mundo, este romance de 1939 leva o leitor até Morro Velho, uma “vila dormente” que sobrevive à mercê de uma companhia inglesa, dedicada à exploração das minas. Na esteira literária dos chamados “romances de trinta”, Guilhermino Cesar aqui se apodera de uma fração do coletivo, ampliando o território da ficção com dimensões peculiares da história brasileira. No vilarejo, trabalhadores arriscam a pele nas galerias, muitos vindos para Minas pelo Rio São Francisco: ali dentro eram todos uns pobres farrapos de sombra, confundindo-se sobre as pedras amontoadas. A narrativa é lenta, em sintonia com a falta de horizontes das personagens, que vêem seus sonhos miúdos serem esgarçados pela sequência dos dias e pelas ordens implacáveis do capataz. De quando em quando, novidades que acontecem no futebol, no café, no circo, no sindicato, no espiritismo ou no seminário iludem a monotonia da vida e a pobreza do Bom-Será. Apurado nos detalhes, o livro ganha corpo nas tomadas de cenas, dando conta da atmosfera, dos diferentes lugares que forma o cenário: o bar, a igreja, a farmácia, a pensão, o colégio, o mercado e as casas com vegetação raquítica. A eficácia sutil da ambientação compete com ações e com a impressão deixada pelas personagens, que entram em cena discretamente: mais além, nas casas cobertas de hera, com jardins à frente, ingleses tomam chá gelado e lêem jornais ilustrados; Sebastiana era uma alma diferente das outras, uma porção de camadas superpostas (…), era auspiciosa aquela trintona. A representação da pequena comunidade é trabalhada num sinuoso limite com a exploração do mundo subjetivo de Luciano: o ambiente de Morro Velho e os sonhos modestos dos habitantes contrastam com o desejo inabalável do baiano de procurar uma outra vida sempre mais ao sul… A figura de Luciano, acossada pela consciência e pela memória, é portadora de uma inquietude mais moderna, talvez como prenúncio do torvelinho mental do poeta Guilhermino Cesar, que escreveu Sul aos 29 anos de idade. Do livro, Mário de Andrade já registrara o bom hábito de “interpretação lírica das coisas”.